«Há uma enorme tendência para se achar que o papel da oposição é apresentar alternativas àquilo que o Governo faz. Não é. O papel da oposição é de fiscalização da acção do Governo», disse ontem Manuela Ferreira Leite num jantar com o seu grupo parlamentar.
Os senhores que planeavam fazer parte dos grupos de estudo do PSD devem-se estar a perguntar o que se fará com o que produzirem. Pelo menos já perceberam que nem devem sonhar em aparecer numa qualquer conferência de imprensa na sede do PSD a apresentar políticas alternativas.
A Presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, saberá que a Economia ganhou o titulo de Senhora das Ciências Sociais quando escolheu como seu campo de investigação e desenvolvimento soluções e consensos políticos pré-existentes ou por outras palavras, a economia avançou como ciência social sabendo que cada negócio fechado, cada transacção, implicava a resolução de um diferendo politico. A Economia avançou como tal porque indissociável da actividade politica, porque inseparável do encontro de vontades e a resolução de diferendos políticos. (Lerner, A. 1972. The economics and politics of consumer sovereignty. American Economic Review 62, 258–66)
Ao afastar a ideia que a oposição deve apresentar alternativas, propor, no fundo falar política, Manuela Ferreira Leite, comete vários erros que lhe podem custar caro e afasta a ideia que a oposição implica opor a uma solução uma outra que julgue mais adequada. Se assim não for é porque não está a jogar. Está no banco.
Em primeiro lugar, na base desta ausência de alternativas está a ideia que é no silêncio que não se afastam votos, em oposição à noção que o contrário afastará votos da alternativa que se quer apresentar. Isto teria um fundo de verdade quando Durão Barroso era líder de oposição, sobretudo quando do outro lado estava Guterres, que cansou o eleitorado com tantas ideias e propostas, tanto diálogo e troca de impressões. Sócrates não segue essa linha, Manuela Ferreira Leite não devia imitar Barroso.
Em segundo lugar, não é porque o PSD sai dos holofotes que as asneiras do PS passam a lá estar, para tal também não basta denunciá-las, o que se tem algum efeito a curto e médio prazo, não chega.
Como se viu com Marques Mendes, cujos temas que lançou – OTA e Referendo ao Tratado – dominaram a agenda, mas não lhe renderam mais votos. Sobretudo porque não foi claro na resolução dos problemas que apresentava durante muito tempo, demorando eternidades até falar em Alcochete por exemplo, sobretudo porque ao fim de um muito curto período de denúncias deixou de ser ouvido.
Não vou aqui discorrer até que ponto esta opção pelo silêncio tem consequências no gradual desinteresse dos militantes e daqueles que querem colaborar na elaboração de políticas alternativas. Os exemplos do passado recente no PSD ofereceram amplas provas do erro dessa opção.
No entanto, gostaria de chamar à atenção a contradição entre a opção de sair do palco mediático e a forma como no PSD ainda se vive com receio da discussão pública das diferenças e posições, ou seja, para quem não quer mediatização da política parece que as suas opções principais denunciam uma preocupação exagerada com os media.
Em terceiro lugar, sem a apresentação de alternativas é licito afirmar que o eleitorado ficará às escuras, sem saber no que o PSD se distingue das opções actuais do Governo. O argumento que o eleitorado só decide perto das eleições não funciona aqui, porque essa decisão não prescinde do que foi ouvindo e vendo ao longo do tempo.