João Gonçalves é uma das muitas figuras que sobrevive à sombra dos defeitos que acusa os outros de terem. Cultiva ódios como quem come tremoços, a coisa é sempre pessoal, não há meias-tintas. Excepcionalmente se a vitima lhe passa a mão pelo pêlo, lá concede uma frase simpática e um sorriso de compreensão, “estão a ver?” – explica o João – “disse que o gajo era uma besta quadrada e ele até foi um cavalheiro e agradeceu a minha atenção.”
Poderia parecer que o João era alguém que no fundo anseia por carinho, umas festinhas no lombo, de ser apaparicado. Não é verdade. Ele de facto, não precisa disso para nada e muito menos de simpatia. O homem basta-se.
Ele quando nos atira com a sua aversão a uma figura, a insulta, enlameia, acusa de horrendos pensamentos (o João lê pensamentos não sabiam?), retorce, cospe, chuta e lhe faz cócegas (o João faz cócegas, é verdade, mas olhem lá, faz com força) não se pense que o nosso João quer atenção, quer que lhe liguem, lhe batam de volta. Nem pensar nisso. Ele está genuinamente zangado, está a fazer biquinho até. Aquelas coisas que ele escreve, cheias de justa indignação para com a superficialidade do mundo, de Portugal e do Passos Coelho (por esta ordem) não são mais que lancinantes gritos de alerta ao mundo, a Portugal e ao Pacheco Pereira (também por esta ordem).
Ao João deve-se muito, por isto e mais uma dúzia de coisas que não quero agora mencionar porque é tarde e eu fico cheio de tremuras quando me ponho a escrever sobre ele.
Ao contrário dele e também por causa dele, a populaça, eu e o Fanã (o que vende tremoço na Feira de Fanares) roemos as unhas sempre que pegamos numa caneta, no portátil ou na lata de tinta enquanto fazemos aquela terrível pergunta: E o João pá? Será que o João aprova?
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