Sabemos hoje que Obama evitou estar presente no fórum da Aliança de Civilizações, haverá muitas razões para tal, sendo que as principais já tinham sido adiantadas em várias alturas. Não são mal-entendidos como adianta o Gabriel Silva, são de facto bem mais que isso.
Há tempos alertei para um artigo da Heritage Foundation (via Paulo Gorjão) sobre algumas das razões que poderiam levar Obama a não perder o seu tempo nesta iniciativa e de facto assim foi.
Há ainda menos tempo voltei a escrever sobre o assunto, houve quem adivinhasse algum pessimismo nas minhas palavras e tinha alguma razão. Na altura escrevi que “um sistema de valores, filosóficos, culturais, religiosos e ideológicos existe como emanação dos povos que o partilham, não tem como fim ser aceite ou tolerado por um outro sistema que pode muito bem ser diametralmente oposto.
É certo que esse mesmo sistema pode advogar princípios de tolerância para com a diferença mas se confrontado com uma ameaça à sua existência reage de forma a garantir a sua sobrevivência.”
Bernard Lewis, no seu livro “O Médio Oriente e o Ocidente. O que correu mal?”, lembrou que no “Ocidente havia há muito o hábito de pensar em bom ou mau governo em termos de tirania versus liberdade. Tradicionalmente, no Médio Oriente, imunidade ou liberdade eram vistos como conceitos legais e não políticos. (…) ao contrário do Ocidente, os Muçulmanos não utilizavam a escravidão e liberdade como metáforas políticas. (…) o oposto da tirania não era liberdade, mas justiça.”
Aqui está uma diferença entre duas civilizações que não pode ser apagada por qualquer documento que advogue o recurso a uma linguagem que “esconda” essa mesma diferença em nome de uma melhor compreensão do próximo.
O discurso politicamente correcto não serve nada nem ninguém, mas apenas tenta perpetuar a ilusão que não há diferenças que quando são ignoradas matam.
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